quinta-feira, 16 de agosto de 2007

2. Sofia

Quando Sofia ri, e ainda mais quando ela ri descontrolada, eu digo: “Ufa!”. Não agüentava mais o silêncio em que se passavam as horas antes. Muito embora queira se tornar uma vaca hindu, Sofia compartilha que o Zodíaco não se mostrou muito favorável ao deitar seu Sol em Áries já logo no primeiro dia. Nem depois dos trinta alterar-se-ão mundos e astros: com ascendente estrategicamente posicionado na mesma casa do signo, ela carrega um Karma, a doses pouco homeopáticas de whisky, digno de uma princesa – aspirante à rainha – da mamãe: é a primeira no calendário estelar. Ainda bem.

Mesmo assim, senhora nobre ao fim do feudalismo, Sofia tem alma de anjo, asa dependurada por vôos demasiado altos ou sorrateiros, e um violão. Este último ela toca o tanto e com a freqüência necessária para conquistar qualquer garoto da idade. Natação, montaria, balé clássico, piano – nada que aprontou, ou que lhe foi aprontado, na vida parece mais rápido ou, ao menos, mais verdadeiro que as suas idéias. E ela não tem quase pressa de me contar. O culpado pela ânsia, repentina, made in England – revelou-me logo cedo – é o horóscopo; grande ditador de estripulias e dissabores o qual não consegue viver sem.

O horóscopo da revistinha que vem com o jornal de costume no domingo é a prova de que nem sempre é tão duro ser enganado. Até uma promessa, uma prece, um conselho pode ser bom. Se forem boas as promessas, as preces e as mentiras, elas então viram meias verdades; verdades partidas melhores que muitas por aí. O mundo de Sofia – seus sonhos de menina, maiores e menores desejos – eu torço, e me embriago de esmero quando parece soar sincero: eu torço apenas para que seja bom.

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