quinta-feira, 16 de agosto de 2007

11. O Amigo

Liguei pra ele pela manhã e ninguém atendeu. Não me pergunte pelo por que do pronome. Quem mais poderia estar naquele apertado quarto-e-sala? Para haver passagem no corredor, Henri mantém a custo a porta do banheiro fechada. Valendo-se dessa necessidade, ele aproveitou e pôs um espelho no lado de fora. Ou seja: você toma banho, seca-se todinho às cegas. Só vê a si no final, depois de vestido e enxugado. Embora, se mora sozinho, é provável que Henri ande nu pela casa.

Voltei a telefoná-lo depois do almoço – do horário de almoço em verdade; nada comi o dia inteiro. Ele ofegou e, só então, respondeu curto, grosso e asmático:

“Alô?” “Ah... Sofia? Olá Sofia. Como vai?”

Foi o máximo de interrogação que obtive. Disse-me que certo amigo passaria algum tempo em sua casa por conta de um curso. O amigo, até então, não tinha nome. Henri acabava de chegar de uma corrida com o amigo, agora hóspede, e estava cansado demais para o meu programa. “Eu agradeço o convite” – qualquer que ele fosse, imaginei – “, mas fica para outro dia” – pontuou.

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