sábado, 24 de outubro de 2009

Henri se Desfaz - Parte 1

Henri desfaz-se da latinha de cerveja num lance suave com o pé que a arremessa para o outro lado da calçada sem ruído. Segue de volta à porta do prédio onde Sofia estava e limpa os dois pés no carpete da entrada. Aperta o botão que alertaria o porteiro. A porta se abre automaticamente.

Henri sobe as escadas de novo. Detem-se diante do apartamento. Gira a maçaneta. Nenhuma tranca ou impedimento.

(per)versos

Henri subiu as escadas forte e silencioso, subiu até o sétimo andar. Só havia diante de si agora dois apartamentos. Ele detém-se diante do 701, ofega, prende, suspira. Desce as escadas mais rápido e baixo que subiu, faz que vai acender um cigarro, mas esquece.

Sofia, ainda sentada, olha para o pau dentro da calça, entre as pernas meio abertas, meio cruzadas, duro. O rosto do homem parece impassível. Ele olha apático para Sofia. Não insinua ou age com desdém. Sofia abre a calça, põe o pau dele na boca e chupa.

- Tem gosto de água sanitária, essa merda.

O homem mantém-se blasé, de pau duro. Agora, ele olha Sofia nos olhos. Parece doce, vira-lhe de quatro e enterra tudo de uma vez sem saliva no buraco de cima. Sofia grita.
- I like violence a little bit – ela diz, em inglês.

Henri ouve alguma coisa lá debaixo. Arrasta uma latinha de cerveja com o pé, suja o sapato.

domingo, 15 de março de 2009

A Grande Noite

O motorista abriu a porta do carro, e Sofia saiu. Estava vestida com um decote discreto e tinha mais maquiagem no rosto do que costuma. Henri distraiu-se, e o homem de luvas abriu sua porta também, e fechou, despediu-se e saiu sem ser escutado.

No quarteirão, havia um café para onde Henri seguia. Um homem de terno abriu a porta pela qual Sofia entrou. O recepcionista e o maître, que conversavam sobre um balcão, viraram-se em silencioso cumprimento.

Embora luxuoso, o prédio era muito antigo – não havia elevador. Sofia subiu as escadas sucedida do mordomo da casa e, em breve, chegou ao terceiro andar. Boa tarde, senhora – ele disse. O anfitrião deixou-a diante de uma porta que estava trancada à chave, e Sofia viu uma segunda porta, esta aberta.

Caminhou em direção ao apartamento, via as costas de um grande sofá. Agora, à sua direita, podia ver uma mão, uma mão jovem e um copo de whisky com gelo. Viu uma garrafa de vodka ao lado da garrafa de whisky e um homem sentado, as pernas meio abertas, meio cruzadas. Sentou num sofá menor vazio em frente ao do homem.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

23. Custo X Benefício

Sofia e Henri estão dentro do táxi, sentados no banco de trás como passageiros. O terço balança no retrovisor. Os holandeses são católicos?

Sofia introspecta:
Esse holandês católico tem esposa?
Será que ela é puta? ... Não... Foi ela que colocou o terço aí. Só pode ter sido.

Henri posiciona as mãos sobre as de Sofia... Acaricia seus dedos devagar.

Sofia, de perfil, continua o raciocínio:
Eis que a sociedade do consumo mostra a carta na manga: no Distrito da Luz Vermelha, são as mulheres que estão na vitrine.

E é caro, viu? Não é como no Brasil, não.
Prostituta no Rio de Janeiro é camelô: transita sorrateira, com sorte, pela escuridão da Zona Sul de postes de lâmpadas queimadas. Cada uma tem seu posto. Vira e mexe dá briga.

Fosse só o constrangimento passava. Mas prostituta de rua é ambulante porque tem que fugir da PM – a mesma polícia que mendiga uma foda mal dada.
PM no Brasil ganha pouco.

Se, ao invés de voltar-se para dentro, olhasse em direção à janela lateral, Sofia veria, na rua, policiais holandeses devidamente becados.

Henri olha, pela janela, vitrines com belas mulheres expostas. Ele pensa:
That’s what i call good meat!

Sofia o cutuca. Tira as mãos de perto dele, coloca-as no seu próprio colo. Ela está de vestido. É possível ver uma porção generosa de suas pernas.

Henri olha para as pernas de Sofia e para o lado de fora do carro. Compara as pernas de sua mulher com as mulheres que estão na vitrine e as que passam pela rua. Ele suspira devagar... E se pergunta:
De quanto na vida eu me privo pelo conforto?

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

22. O Benefício da Dúvida - Parte 1

O casal está no apartamento de Henri.

- Vamos, Sofia! Helena deve estar ocupada em arrecadar um qualquer. Precisa ajudar os pobres dela.

Henri está sentado na cama. Tem boa postura, os olhos perdidos... Ele pensa:

O que essa putinha...O que essa mulher tanto olha na Sofia?
Essa mulher...essa mulher tem um jeito de olhar os homens e a maioria das mulheres que quase me incomoda.

Henri fala, voltado-se à Sofia, que se arruma no espelho sobre o console:

- Vamos, Sofia! Vamos logo...

Do lado de fora do prédio, um táxi passa. Henri faz sinal. O táxi pára.
Henri abre a porta traseira do carro para Sofia e entra em seguida.

Carros riscam o asfalto ao lado do táxi parado. Pode-se ouvir o grande barulho que alguns fazem ao passar. O motorista liga o carro. Henri vê a mão dele ao volante e o retrovisor. Há um terço católico no retrovisor.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

21. A Primeira Vez (preparativos)

Na suíte, eram três horas da manhã. Sofia acorda, e fala para si deitada:

Ao olhar pro lado o que eu podia ver era uma cama. Onde estará Helena? Eu acordei procurando por ela...

Sofia passeia pelo quarto em silêncio, explorando bem todo o espaço:

Estranho. Helena faz a cama sempre tão bem feita antes de sair. Deve ser o...

TRIMMMM. TRIMMMM...

Sofia atende ao telefone.

Põe o fone no gancho, senta na cama de Helena:

Era o telefone. Meu primeiro cliente.

Ela tem o aparelho aos ouvidos. Henri é quem lhe fala (flashback):

- X será o seu primeiro cliente, Sofia. Cuidei para que se tratasse de rapaz educado. Ele é até bonito. Precisa de seus cuidados porque anda um bocado carente. Herdeiro, dono de uma empresa citadina de médio porte, disse no trabalho que tinha consulta médica.

Sofia apenas faz que sim com a cabeça. E desliga o telefone.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

20. Helena - Parte 2

Helena era a típica heroína solitária chicana. Quase anônima como a grande maioria. Nunca soubemos o seu nome verdadeiro; nem eu nem o mais poderoso de seus clientes. Participara de inúmeras revoluções, todas elas no continente americano, sempre sob a proteção do pseudônimo.

Cansada de sangue e mais sangue, ela chegava à Amsterdã para oferecer o seu corpo vivo ao mortal que fosse. Precisava arrecadar junto aos senhores de bem a quantia necessária à compra da revolução. Em troca, oferecia-lhes o prazer que seus móveis, imóveis, esposas e estilos de vida não conseguiam.

Helena não negava o mundo à sua volta, mas simplesmente o combatia. A Revolução ela dizia que não acabou. O que aconteceu à luta de Helena é o que a trouxe a Amsterdã. “A revolução mudou” – ela sustenta – “a única Revolução possível é a das idéias”.
 
BlogBlogs.Com.Br